quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora. Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante — seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente os seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.
Caio Fernando Abreu
Querido John,
Há tanta coisa que quero dizer para você, mas não tenho certeza por onde devo começar. Devo começar dizendo que te amo? Ou que os dias que passei com você foram os mais felizes da minha vida? Ou que, no curto espaço de tempo que nos conhecemos, passei a acreditar que fomos feitos um para o outro? Poderia dizer todas essas coisas e tudo seria verdade, mas, enquanto releio estas palavras, a única coisa que passa pela minha cabeça é que queria estar com você agora, segurando sua mão e olhando seu sorriso elusivo. No futuro, sei que vou reviver o tempo que passamos juntos mil vezes. Vou ouvir seu riso, ver seu rosto e sentir seus braços em torno de mim. Vou sentir falta de tudo isso, mais do que você pode imaginar. Você é um cavalheiro raro, John, eu estimo isso em você. Todo o tempo em que estivemos juntos, você nunca me pressionou para dormir com você, e eu não posso dizer o quanto isso significou para mim. Tornou o que temos ainda mais especial, e é assim que eu quero me lembrar para sempre do período que passamos juntos. Como uma luz branca e pura, cuja contemplação é de tirar o fôlego. Penso em você todos os dias e sei que, quando for te ver amanhã, dizer adeus será a coisa mais difícil que já fiz. Parte de mim teme que chegue um momento no qual você não sinta mais o mesmo sentimento, que por algum motivo você esqueça o que nós compartilhamos, então é isso que eu quero fazer. Onde quer que você esteja e não importa o que esteja acontecendo em sua vida, na primeira noite de lua cheia – como na noite em que nos conhecemos – quero que você a encontre no céu noturno. Quero que você pense em mim e na semana que partilhamos, porque, seja onde for, seja o que estiver acontecendo na minha vida, é exatamente isso o que vou fazer. Se não podemos estar juntos, pelo menos podemos compartilhar isso, e talvez entre nós, sejamos capazes de fazer isso durar para sempre. Eu te amo, John Tyree, e eu vou agarrar-me à promessa que uma vez você fez para mim. Se você voltar, vou casar com você. Se você quebrar a sua promessa, vai partir meu coração.
Com amor, Savannah.